O Canto Coral e a Educação Musical - II
por Júlio Amstalden
No artigo anterior descrevemos como o canto coral deixou de ser praticado nas comunidades religiosas católicas no Brasil, bem como a educação musical foi retirada dos currículos escolares brasileiros.
Por educação musical entende-se o conjunto de aquisições que permitem reconhecer as propriedades do som e manuseá-las na prática, dentro do que é conceitualmente entendido como Música. Compreende também o entendimento de conteúdos não verbais contidos nas práticas musicais, os quais favorecem a experiência estética. Dessa forma, uma educação musical eficiente é aquela que possibilita a vivência da Música enquanto não apenas conhecimento técnico, mas também como uma possibilidade de ir além da materialidade dos cotidianos.
O canto coral é uma situação que favorece tanto a sociabilização dos indivíduos quanto a difusão de conhecimentos. O contato com as qualidades sonoras e sua prática, bem como o contato com diferentes tipos de repertórios, garantem ambos um alargamento de horizontes aos participantes de um coro. Trata-se de uma partilha de conteúdos que enriquecem a experiência humana para além dos currículos escolares e profissionais. Além disso, o canto coral ajuda no desenvolvimento do senso de trabalho em equipe e de co-responsabilidade na obtenção de resultados. Estudiosos já puderam observar que sociedades onde o conceito de cidadania é bastante desenvolvido possuem grande número de grupos coral.
Infelizmente, as várias décadas de ausência no Brasil de educação musical nas escolas e de ausência de coros nas comunidades religiosas trouxe grande lacunas na formação de gerações. Em geral, nos dias de hoje boa parte de crianças, jovens e adultos não conhece a prática do canto coletivo. Com poucas opções de escuta a não ser o que lhes é trazido pela mídia, acabam por ter uma percepção musical normalmente embotada, com dificuldades para realizar mesmo as tarefas mais elementares. Igualmente, desconhecem repertórios, mesmo aqueles que pertencem ao folclore do país.
No momento atual, existe um movimento de recuperação dos coros nas comunidades católicas brasileiras, ainda que tímido e recente. Observa-se que aparecem poucos candidatos a cantores e esses são normalmente mais velhos, com mais de 40 anos. Isso é altamente significativo, pois confirma o desconhecimento das gerações mais novas por essa modalidade de música.
Por outro lado, fortalece-se e cresce no país uma modalidade educativa conhecida por educação não formal. Trata-se dos processos educativos que acontecem fora da escola, o que não significa que são orientados por uma falta de objetivos ou planejamento. São processos que adequam-se às necessidades específicas de determinada comunidade e baseiam-se na espontaneidade e na liberdade. Isto é, não é uma educação imposta, pois dela fazem parte aqueles que a decidiram procurar. Além disso, é um tipo de educação mais livre, não amarrada pelas enormes cargas de legislações burocráticas que caracterizam a educação escolar, dita formal.
Os coros, por sua natureza, agregam várias características da educação não formal. Em artigo posterior veremos como isso pode ser altamente significativo dentro do contexto litúrgico-religioso.
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