Quinto aniversário do Coral Vozes do Carmo


 Por Júlio Amstalden

Neste mês de agosto de 2014, o Coral Vozes do Carmo da Basílica Nossa Senhora do Carmo de Campinas completa cinco anos de existência. Foi criado pelo Cônego Pedro Cipolini em 2009, que desejava que a Basílica dispusesse de um grupo capaz de executar tanto a música pastoral quanto aquela de caráter mais solene, de maneira a conduzir a assembléia a uma atmosfera orante e celebrativa dentro dos princípios litúrgicos estabelecidos pelo Vaticano II. A atitude do então Cônego Pedro, hoje bispo de Amparo-SP, constituiu uma verdadeira exceção no cenário das comunidades católicas brasileiras, na verdade não muito preocupadas, em sua maioria, com questões de cunho litúrgico-musical. Já foram vários os artigos publicados nesse blog a respeito do declínio dos coros litúrgicos e da significação de sua retomada.
Cinco anos constituem um tempo razoável para a percepção e análise dos vários desafios que se impõem à caminhada do grupo. O maior deles, sem dúvida, diz respeito à realidade da Basílica Nossa Senhora do Carmo de Campinas enquanto comunidade religiosa encravada no coração econômico de uma das maiores e mais ricas cidades brasileiras. Circundada por bancos, empresas e comércio dos mais variados tipos, a Basílica torna-se local de passagem para muitas pessoas advindas de outros bairros mais distantes ou mesmo de cidades vizinhas, de maneira que torna-se difícil arregimentar voluntários para os muitos trabalhos pastorais, entre eles o da música litúrgica. Dessa forma, o Coral Vozes do Carmo tem sofrido as conseqüências disso, pois as evasões têm sido constantes e grandes as dificuldades para repô-las. 
Vários são os fatores relacionados às evasões. Entre eles poderíamos citar: pouca disponibilidade para se assumir um compromisso regular constante, distância entre local de moradia e o centro da cidade, excesso de trabalho etc. Por outro lado, entre as dificuldades de reposição de coralistas podemos citar igualmente os mesmo fatores, mas acrescidos do fato de que muitas pessoas ainda não têm clareza a respeito do que se trata um coro, bem como também é verdade que existe certo preconceito e resistência em relação a ideia de coro de igreja, principalmente entre jovens e parcelas mais escolarizadas da população. As décadas de ausência dos coros litúrgicos levaram os católicos a desconhecerem (ou esquecerem) essa possibilidade, bem como ainda confundi-los com os grupos de canto, que trivialmente existem nas comunidades. Existe ainda um outro fato, este bem peculiar da cultura brasileira: muitas pessoas, por incrível que pareça, pensam que a prática do canto coral é uma atividade feminina e, por isso, não adequada aos homens. O efeito disso pode ser observado em grande parte dos coros comunitários: o número de vozes femininas geralmente é superior ao das vozes masculinas. O Vozes do Carmo padece, já há algum tempo, de um déficit de vozes masculinas.
Como já anteriormente citado em outros textos, observa-se um lento e gradual reinteresse pelos coros litúrgicos. Mas ainda existe muito isolamento entre os poucos grupos congêneres, bem como pouca colaboratividade entre regentes. Entende-se que o diálogo e o intercâmbio seriam salutares no sentido de um fortalecimento e crescimento do movimento.
Por fim, há que se comentar sobre a falta de repertórios adequados aos coros litúrgicos de hoje em dia. Os mais de quarenta anos de ausência dessa prática criaram uma enorme lacuna nesse sentido, pois muito do repertório anterior ao Vaticano II não mais se adequa às necessidades atuais. Daí ser forçoso realizar arranjos corais para o que já existe, bem como lançar mão da composição de material inédito. Ambas as práticas têm sido realizadas pelo Vozes do Carmo.
Vida longa e frutífera ao Coral Vozes do Carmo! Que Deus nos conceda saúde, força e inspiração.

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